23 janeiro 2012

Rumo ao quarto centenário de Belém e da Arquidiocese

Em clima de festa, na Catedral de Belém, uma missa em ação de graças presidida pelo Arcebispo Metropolitano, Dom Alberto Taveira, comemorou o aniversário de Belém. Na homilia, o Arcebispo enfatizou a caminhada rumo aos 400 anos da cidade e a contribuição da Arquidiocese na comemoração, com a realização do Congresso Eucarístico Nacional.

O Arcebispo iniciou sua homilia saudando as autoridades civis, dentre elas o Prefeito, Duciomar Costa, além das autoridades religiosas e fiéis que acompanhavam a celebração na Catedral e também na TV Nazaré, e depois prosseguiu. Acompanhe a transcrição: "Caminhamos para o quarto centenário dessa nossa cidade, quatrocentos anos que se aproximam. Penso ser interessante começar a nossa reflexão desta manhã pensando exatamente no sentido do tempo. O dia de hoje amanheceu magnífico, bonito. O tempo enquanto cronologia tem seus ritmos. Estações, anos, meses, semanas, dias, variedades do clima. Tudo o que nós temos enquanto riqueza amazônica de diversidade e natureza abençoada que Deus nos concedeu. Esse tempo corre do mesmo jeito, se vamos a um município vizinho encontramos a mesma natureza, o mesmo sol, as mesmas águas, o mesmo calor que faz parte de nossa região.

No entanto, um dia de aniversário para uma pessoa tem um sentido diferente, que provavelmente quem mora numa casa vizinha não percebe. Também nosso tempo tem um sentido diferente. Da Sagrada Escritura e da vida da Igreja nós colhemos uma expressão que hoje é bem conhecida, vinda da língua Grega: 'O tempo não é somente 'Cronos', cronologia, mas o tempo é 'Kairos', oportunidade. Depende do sentido que nós damos a ele. Sabemos que o tempo, mesmo para aqueles que não têm fé, é calculado pelo nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. E, hoje, vimos os pastores, que tendo conhecimento da novidade do nascimento do Salvador, vão a Belém para ver o que lá havia acontecido e encontram o menino junto com sua mãe e São José e saem espalhando as maravilhas que ali encontraram. O tempo se torna diferente. Torna-se, então, uma oportunidade, um dom especial de Deus. O nosso tempo é contado como ano do Senhor de 2012, do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. E por isso Deus seja louvado por este tempo.

Caríssimos irmãos e irmãs, A nossa cidade nasceu em torno de um Forte do Presépio. Aqui, desde os primeiros dias, desde os albores desta terra, aconteceu a presença da Igreja. E o nome de nossa cidade: Santa Maria de Belém do Grão Pará. Deus seja louvado porque a nossa história está ligada na sua raiz à fé católica, à devoção e a presença amorosa de Nossa Senhora de Belém. E aqui nós queremos tão bem a ela que a chamamos de Nossa Senhora da Graça, Nossa Senhora de Nazaré ou quantos outros títulos quisermos atribuir a Nossa Senhora. O mais importante é a sua presença materna que acompanha esta nossa cidade.

Daqui a quatro anos este dia será certamente de grande acontecimento de festa na cidade. Durante todo o ano de 2016, Belém estará em festa. Além de outras possibilidades de participação, a Arquidiocese de Belém realizará no mesmo ano, de 15 a 21 de agosto, o XVII Congresso Eucarístico Nacional. Há alguns anos foi pedido a CNBB que a realização desse Congresso Eucarístico acontecesse aqui e o episcopado brasileiro assentiu. Belém será a capital eucarística do Brasil no ano do seu quarto centenário. Já estamos nos articulando a preparação do Congresso. Todo seu esquema de realização já está pronto, tendo Padre José Gonçalo Vieira como coordenador e Padre Roberto Cavali será o secretário geral. Será a grande contribuição da Arquidiocese no ano do quarto centenário e que desde já a cidade contemple este evento na programação como o grande marco, já que todo o Brasil estará voltado para Belém.

O tema do Congresso Eucarístico Nacional será: 'Eucaristia e Partilha na Amazônia Missionária', e o lema: 'Eles o reconheceram ao partir do pão'. Os outros bispos de toda a região amazônica já foram convidados, envolvidos, porque será um encontro não só para a cidade ou para a Arquidiocese de Belém, mas também para todos os estados que compõem a região amazônica. Será a nossa participação principal no quarto centenário. Já é do conhecimento da sociedade, mas considerei oportuno nesta santa missa formalizar este anúncio à cidade de Belém.

Voltemos ao tempo, a segunda leitura da carta de São Paulo aos Gálatas diz que na plenitude dos tempos Deus enviou seu filho, nascido de uma mulher. Não é que os tempos amadureceram para fazer acontecer a encarnação do Verbo, não. Quem fez o amadurecimento do tempo foi Deus, que enviou seu filho amado. Quem faz o tempo ser um 'Kairos', uma oportunidade de graça e de salvação, é o amor do próprio Deus. E quando nós, pessoas humanas, queremos transformar 396 não apenas num dado do calendário, mas dar um sentido de festa é preciso ouvir o convite: vamos a Belém. Temos o privilégio de ter o nome, o mesmo da cidade onde Jesus nasceu. A Belém do Pará precisa caminhar cada vez mais para ter os valores próprios da Belém de Judá.

Primeira proposta é a observação: que esta cidade não feche os seus corações e as suas portas para nosso senhor Jesus Cristo. Talvez você e eu digamos imediatamente que aqui nós temos fé, temos devoção. Não basta dizer eu creio. É necessário viver segundo esta fé. O primeiro augúrio que faço à nossa cidade é que ela efetivamente dê sentido novo às suas leis, suas organizações, deixando Jesus Cristo, sua palavra, a vontade de Deus, entrarem em todas as circunstâncias. É o primeiro pedido, a primeira proposta que faço. 

Quem faz o tempo deixar de ser apenas um dado do calendário são as opções das pessoas. Peço em nome da Igreja que nossa cidade tenha uma atenção especial aos que são marginalizados, aos pobres, aos doentes, aqueles que sofrem mais. Quando a administração de uma cidade conseguir olhar lá longe em quem está no fundo da fila, no meio do caminho, terá voltado seu olhar, sua atenção, para todos os que estão na frente ou nas áreas intermediárias.

Permitam-me levantar outra questão, dolorosamente, as autoridades têm mais consciência disso do que eu: a nossa cidade se torna um foco, um ponto terrível de violência. Observações que vemos estampadas em várias fontes dão conta que os eixos de violências, e com tudo o que causa esta violência, vão se transportando, eles se transferem saindo das grandes metrópoles do Sudeste, migrando um pouco para a Bahia, para Pernambuco, chegando até aqui. Não fomos nós que causamos isso, mas é um fenômeno que vai fazendo migrar esses eixos de violência, de crime, de tráfico. Todos nós, os governantes, a sociedade civil, não só a Igreja Católica, mas todos os grupos religiosos, precisamos nos unir para verificar o que podemos fazer. Se não tomarmos posições muito claras chegaremos a situações caóticas.

Até me assusto quando os meios de comunicação dão tamanho realce aos fatos de violência e maldade. Gostaria muito que o bem fizesse mais propaganda. Você nunca viu uma grande manchete de uma família que deu certo. Mas a todo o momento existem muitas manchetes das situações dolorosas que estragam uma família. Que nós, ao pensarmos nas pessoas, lembremo-nos daquilo que os anjos cantaram em Belém: "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por ele amados". Para que a paz se espalhe na terra entre os homens que são amados por Deus é necessário que Deus seja glorificado.

A última palavra que me ocorreu como reflexão para o dia de hoje. Que as autoridades e o povo se empenhem nestes 396 anos da cidade de Belém, na preparação dos 400 anos, já que também ali começou a evangelização da Amazônia. Que todos nos empenhemos. Que convertamos a um valor que é fundamental e que o ensinamento social da Igreja procura espalhar e formar consciência, o valor do bem comum. Que sejamos uma cidade, não de interesses que se digladiam, mas de busca daquilo que faz bem a todos, e que envolve a todos. Políticas inclusivas, políticas efetivas de bem comum e, é claro, para que isso aconteça, é necessário especialmente que o esforço de educação de nossas crianças, adolescentes e jovens seja bem trabalhado. Afinal de contas, o sinal que aqueles pastores encontraram quando disseram 'vamos a Belém para ver o que lá aconteceu', foi uma criança, uma criança no colo de uma mãe. Seja esse o ícone dos 396 anos, ou quem sabe, até dos 400 anos da nossa cidade de Belém. Para que cheguemos lá como quem encontra a cena talvez mais prosaica, mais humana, e por isso, carregada de divino, que é a vida: uma criança ao colo de uma mãe.

Que Belém seja feliz, que esta cidade seja unida e que todos nós contribuamos para que ela cresça cada vez mais no sentido do bem de todos para que nós correspondamos ao que Deus espera de todos nós. Assim Seja."