22 fevereiro 2012

PRA FESTA NÃO ACABAR

O carnaval em si não é pecado. Não é pecado se divertir, tanto que o primeiro milagre de Jesus foi realizado justamente para que a festa não acabasse (Jo 2, 1-11), e essa festa nem era um “Carnaval com Cristo”, era uma farra entre amigos e familiares comemorando um casamento. Na vida comunitária, sobretudo nas pequenas comunidades, quermesse e prece sempre conviveram juntas. Então, quarta feira de cinzas não pode significar simplesmente o fim da festa como muitas/os parecem querer.

Digo isso porque tenho percebido certa condenação infundada da alegria, de toda festa que não é organizada pela igreja. Nos últimos anos cada vez mais parece que só prestam as "coisas de Jesus". A gente dá bar pra Jesus, carnaval pra Jesus, discoteca pra Jesus. Muda letras de axé e coloca Jesus no meio, enfim, até pipoca virou de Jesus. Mas será que é de Jesus mesmo? Não sei. Só que não vejo as pessoas que organizam essas coisas pra Jesus, por exemplo, trabalhar concretamente para que vidas como a do adolescente, membro do movimento jovem da paróquia de Nossa Senhora do Ó assassinado brutalmente anteontem, 20, em Mosqueiro deixem de ser ceifadas pela violência.

Parece que a Campanha Contra a Violência e Extermínio de Jovens é coisa de PJ, não de Jesus. Então, talvez a quarta feira de cinzas sirva para isso: Para dizer tanto a foliões atrás do trio elétrico como para ‘religiosas/os’ empolgadas/os por pregações emotivas, que é necessário um sentido à vida, ainda que isso signifique que entre uma alegria e outra pode haver muita dor e muita tristeza.

Ainda que signifique que se faz necessário as vezes sair dos ginásios e de dentro dos templos sagrados para fazer concretamente coisas de/para Jesus.


Exemplo mais simples pode ser aplicado à vida nos grupos de jovens. Que a quaresma sirva para que cada jovem perceba um sentido na caminhada. Conversão, trocando em miúdos, significa (re) estabelecer um foco. Mas não um foco que aponte simplesmente um caminho, mas, muito mais, um motivo. Não um simples motivo, mas um motivo maior do que nós e que nos permita suportar dor e tristeza que porventura surjam durante a caminhada - comunitária e pessoal.

Então, que a Quaresma não seja o fim da festa, mas a procura pelo caminho rumo à verdadeira felicidade, essa que jamais será pelna enquanto jovens e adolescentes continuarem sendo exterminados brutalmente. Que a Campanha Contra a Violência e o Extermínio de Jovens seja aceita como uma coisa de Jesus e nos ajude no caminho da conversão quaresmal.


Eraldo Paulino - Jornalista
Assessor Arquidiocesano da PJ na Arquidiocese de Belém