Na quinta-feira, 6, os bispos reunidos na 48ª Assembleia Geral da CNBB, que acontece em Brasília (DF), discutiram as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) - tema prioritário do evento. O tema foi escolhido a pedido 56 bispos que participaram do 12º Intereclesial das Comunidades de Base, que ocorreu em Porto Velho (RO), em julho de 2009.
O bispo de São Gabriel da Cachoeira (AM), dom Edson Tasquetto Damian, destacou que as CEBs garantem a unidade na Igreja entre fé e vida, oração e compromisso político. “A dimensão sócio-transformadora é parte essencial do Evangelho. Quando evangelizamos esquecendo a luta pela justiça, a defesa da vida, a defesa dos direitos humanos, nós estamos de certa forma mutilando o Evangelho. É por isso que as CEBs conseguem na nossa Igreja ajudar na evangelização, que ajuda na libertação integral de todos os homens”, disse o bispo.
Para dom Edson, só existe missão quando se constroem comunidades. Ele explica que o sentido missionário é um dos grandes objetivos da Igreja. “Não existe missão sem construir e envolver comunidades. É na comunidade que estão presentes os pais, os filhos e as pessoas que exercem os ministérios. Toda verdadeira missão deve nascer na comunidade, fortalecer e vivificar nossas comunidades. Eis aí o sentido missionário da Igreja”.
Durante as colocações dos bispos sobre a temática, o arcebispo de Porto Velho (RO), dom Moacyr Grechi, destacou a importância “indispensável” das CEBs para a Igreja. Ele se emocionou ao afirmar que o 12º Intereclesial foi o encontro mais bonito de seus 40 anos de episcopado. “Sem dúvida, o 12º Intereclesial das CEBs, em Porto Velho, foi o momento mais marcante de toda a minha vida episcopal”. Dom Moacyr ainda lembrou as dificuldades em realizar o evento por falta de recursos financeiros e ressaltou o valor do encontro. “Foram muitas as dificuldades para realizar o Intereclesial, no entanto, foi a maior bênção da minha vida”, garantiu.
"Na minha diocese essa opção pelas CEBs foi feita e é irrenunciável, pois tem dado frutos extraordinários, não apenas em manter viva a fé e a esperança do povo, mas onde existem as CEBs os evangélicos não entram e os católicos não saem da nossa Igreja”. O bispo de São Gabriel da Cachoeira também lembrou que outros bispos comentaram que ‘todas as lideranças que saem para o movimento popular, para os sindicatos e para os partidos políticos mais comprometidos, são pessoas que passaram pelas CEBs’. “Para mim, as comunidades de base são escolas que formam cristãos comprometidos com a sociedade, os direitos humanos”, defendeu dom Edson Damian.
Questionado sobre os frutos das Comunidades Eclesiais de Base, o bispo enumerou alguns pontos, que fazem das CEBs indispensáveis ao trabalho junto às bases. “As CEBs têm sido a sementeira de muitas vocações para os ministérios, não apenas para o presbiteral, vida religiosa, mas também para os outros ministérios exercidos pelos leigos e leigas hoje. Acredito que por esses motivos nós temos razões de sobra para agradecer o fato de as CEBs terem entrado nessa Assembleia e incentivado os bispos que têm o pé atrás, a se engajarem nesse caminho”.
Outro ponto importante destacado pelo bispo é a importância das CEBs em formar rede de comunidades. Ele comenta que esse pedido vem do próprio Documento de Aparecida (DAp). Para ele, o ponto ‘criação de comunidades’ é desprezado por outras pastorais e movimentos, que estão nascendo agora na Igreja. “Alguns movimentos acentuam apenas a dimensão espiritualista, a vida sacramental que é importante, mas, sem o engajamento numa comunidade e sem o compromisso com alguma pastoral, como as CEBs se preocuparam. A fé se torna muito individualista, particularizada e subjetivista sem a presença da comunidade. O DAp, por exemplo, orienta esse modelo de movimento ou pastoral engajado nas comunidades”.
Particularidades das CEBs
O bispo de São Gabriel da Cachoeira também pontuou alguns diferenciais e particularidades que fazem das CEBs “indispensáveis à Igreja”. “Primeiro elas são samaritanas: fazem o papel do bom samaritano que se inclina sobre os feridos, os excluídos, aqueles que sofrem. Ela é samaritana como Jesus que é o bom samaritano. Em segundo lugar, as CEBs são proféticas porque elas se colocam em defesa e promoção da vida, da justiça, e na dimensão profética da Igreja. Em terceiro lugar, as CEBs têm a dimensão da família, é o rosto familiar da nossa Igreja”. De acordo com dom Edson, “é nas comunidades de base que as pessoas se conhecem pelo nome e até pelo apelido”. A dimensão orante é outro ponto importante nas comunidades, segundo o bispo. “Nas CEBs celebramos os sacramentos, as liturgias da Palavra, quando é impossível a celebração da eucaristia”. Por fim, diz dom Edson, “elas têm a dimensão missionária, tão importante. As CEBs formam os discípulos missionários, que são o novo jeito de ser cristão na nossa Igreja no Brasil e na América Latina”.
A CNBB vai publicar no fim da Assembléia um texto de sete ou oito páginas, sobre o tema prioritário, Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), cujo objetivo é chegar às próprias comunidades de base.