21 agosto 2009

Pra pensar... (trecho do subsídio que está sendo preparado para o DNJ 2009)

UM LEVITA E UM SACERDOTE...

“ O Senhor perguntou a Caim: Onde está Abel, teu irmão? Respondeu ele: Não sei; sou eu o guarda do meu irmão?” (Gn 4,9)

A cultura de medo dos jovens gerada por nossa sociedade encontra fortes reflexos em nossas comunidades cristãs. Há 20 anos atrás podíamos sentir a força da juventude em nossas igrejas. Grupos de jovens reuniam-se todos os finais de semana em praticamente todas as comunidades católicas. Congregações religiosas, párocos, estruturas eclesiais estavam à serviço das Pastorais e Movimentos juvenis. Em nível mundial, surgiram e ganharam força as Jornadas Mundiais da Juventude. Muitas eram as dificuldades. Mas uma convicção persistia: os jovens eram importantes para as comunidades...


Hoje a situação mudou drasticamente. Pouquíssimas congregações religiosas se ocupam diretamente com os jovens das comunidades eclesiais. Raros são os adultos que se dispõe a acompanhar um grupo. Muitos jovens caminham sozinhos... E, o que é pior, muitas comunidades não tem grupos de adolescentes e jovens e tampouco se preocupam em criá-los.


Não é incomum ouvir padres, religiosos e adultos dizendo valer mais a pena investir nas crianças, pois com os jovens não dá mais certo... Muitos até geram pressão e tentam extinguir os grupos e movimentos juvenis. Isso nos dói muito... É direito da juventude e de todo fiel leigo organizar-se em grupos e associações – conforme o Código de Direito Canônico cân. 299. Pena que este direito nem sempre seja respeitado, incentivado, levado a sério e devidamente acompanhado pelas autoridades eclesiásticas.


O que aconteceu com o encanto de nossa Igreja, que criou a Ação Católica – predominantemente juvenil, que acompanhou as PJ’s por anos; que fundou e acompanhou tantos movimentos de jovens? Parece que o medo a paralisa. Parece que não mais está disposta a escutar a juventude de hoje, que difere e muito dos jovens dos anos 80 e 90.


Neste DNJ queremos denunciar as duas orfandades dos jovens de hoje: órfãos do Estado brasileiro, que os condena como “menores infratores”, órfãos da mãe Igreja, que os condena como imaturos, inconseqüentes, irresponsáveis e desinteressados...


“Onde está teu irmão? Eis que a voz do sangue do teu irmão clama por mim desde a terra" (Gn 4,9-10), disse Javé a Caim, após a morte de Abel. Onde está o Pe. Gisley, o Deivid, o Hiago, Marcos Aurélio, Wellington, Charlles, Mikiel, Guilherme, Felipe? Onde estão as vozes dos mais de 17 mil jovens assassinados por ano no Brasil? Estão clamando porque nós cristãos estamos calados, vendo os jovens morrer e culpando os próprios jovens por isso.


São vidas que podem ser mortas, pois não há quem chore por elas. Quem lute por seus direitos. Vidas que foram aliciadas com seus 12 ou 13 anos de idade e que agora, com seus 20, escravas do crack, roubam e matam – pois estão desempregados e sem perspectiva...


Quem cuida deles? Até quando vamos esperar de braços cruzados?


Pe. Alex Cordeiro

Comissão Juventude - Curitiba/PR.